O caipira e o empresário

 Conto-lhes uma história:

"Certo dia, ao fim da tarde, um caipira, homem-da-terra, estava sentado em sua cadeira de balanço postada na varanda de sua humilde casa, ele ia e voltava, voltava e ia. O capiau tinha seu chapéu quase fechando seus olhos e um fuminho na boca sincronizado à sua lenta respiração.

Até que o silêncio, o sossego, é rompido por um barulho estranho, um motor de um carro potente, novidade por aqueles lados.

O caipira não podia ver nada além da poeira que se levantava naquela estrada onde, até então, somente trotavam cavalos. O veículo vinha cortando a terra em direção a humilde casa do peão.

O caipira apesar de não saber o que se passava, não esboçou nenhuma reação, permaneceu ali sentado, indo de lá para cá, de cá para lá.

Enfim, aquela camionete preta, pára em frente à casa deste modesto homem-da-terra, e, depois do baixar da poeira, um executivo bem vestido (trajando seu terno Hugo Boss, relógio Armani, sapatos Louis Vuitton, óculos escuros Gucci) desce de seu carro e vai em direção ao caipira, a casa sem muros nem porteira não dificultava a aproximação.

O executivo, com sua voz empostada, não tarda a perguntar:

- Colega, esta terra é sua?

O caipira sem parar seu movimento de inda e vinda e sem se esforçar muito para levantar a cabeça, responde com voz preguiçosa:

- Sim senhô!

O empresário se surpreende e pergunta:

-Observei que sua terra parece muito produtiva, por que você não aproveita sua terra plantando mais?

- Pra quê? Indaga o caipira.

- Ué, para produzir mais.

- Pra quê?

- Para você poder vender e ganhar mais dinheiro.

- Pra quê?

- Ora, dinheiro para você melhorar sua casa, comprar um carro, uma televisão, um celular...

- Para quê? Interrompe o caipira.

O empresário já irritado, exclama:

- Para você ter mais conforto!

- Para quê?

- Argh, para você poder descansar melhor!!!

O caipira esboça um sorriso, tira o seu fuminho da boca, levanta com cuidado seu chapéu de palha e diz, olhando nos olhos do altivo empresário:

- Mas não é isso que estou fazendo?

 Sem mais perguntas e respostas, o empresário foi embora."

Você entendeu o porquê deste post? 

Não estou arrumando justificativa ao meu desemprego, não estou colocando o caipira como preguiçoso, não estou falando de espírito empreendedor... Estou aqui trazendo uma reflexão quanto ao motivo de sua existência, na verdade, falando e questionando mais especificamente os motivos pelos quais você trabalha ou produz algo.

Bom, antes de mais nada, vale salientar que o caipira havia trabalhado, mas ao fim da tarde descansava.

Vamos lá, pense comigo, por que você trabalha? Pense profundamente nesta questão.

Quais resultados a pequeno, médio e longo prazo você espera?

Sabe, sociologicamente falando, penso que temos vivido em um conflito claro quanto ao trabalho e ao dinheiro. Nos dias atuais (entenda-se  tempos contemporâneos) o que antes era um meio virou o fim para sobrevivência. Não é de hoje que o dinheiro é a raiz de todos os males, mas, sem dúvida, é no capitalismo que ele recebeu seu valor mais honroso. Hoje, a característica principal, sem sombra de duvidas, é o ter e não o ser. O sobrenome, o sangue, a decandência, a nobreza, desfaleceram para dar lugar a burguesia que através da posse criou seu nome. Atenção, antes o nome lhe dava a posse, hoje, a posse lhe dá o nome. Não posso desvirtuar meu assunto de hoje... então voltemos...

A posse de bens materiais, e, sobretudo, os bens tecnológicos, viraram um fim e é o dinheiros que os compram. Trabalhamos horas e horas para comprar um celular, um carro, uma casa, fazemos horas extras para dar um upgrade nestas mesmas coisas citadas... Mas por quê? Este é o questionamento, ou melhor, o questionamento é: PARA QUÊ? Você já refletiu sobre isso? Ou assim como muitos (vide o exemplo da historia) nunca pensou o porquê de tudo isso, o porquê da correria da sua vida, o porquê de passar pouco tempo com seus amigos e família, ou o porquê de você se importar pouco com os outros ao seu redor.

Ontem a noite, eu conversava com um amigo que trabalha entre os índios, ele dizia que, depois que alguns índios foram contratados como professores pela prefeitura começando a receber salários, a construção em forma de multirão acabou. Ou seja, antes os índios construíam as "casas" juntos, com o apoio da comunidade, porém, agora não há mais "favor". Hoje esse diálogo é comum na aldeia: "Amigo, pode me ajudar a levantar minha casa? Quanto você vai me pagar". Esse é um exemplo e não quero que seja mal interpretado, mas me intriga pensar que existem pessoas que acreditam que nós somos mais evoluídos, faça-me o favor.

Fato, todos nós gostamos de conforto e do que o dinheiro pode nos dar, mas existem coisas que realmente não se compra, não se pode voltar atrás usando um controle remoto (veja o filme click que ilustra bem o que quero dizer http://www.youtube.com/watch?v=448jZuA5Y1I ). 

Estou falando quase de jargões agora, mas de verdade, pense no motivo de sua existência e o que realmente vale a pena, o tempo passa, não voltamos atrás, o que plantarmos, colheremos.

Você realmente precisa do que você tem? Ou você se convence que o que você tem nunca é o bastante (é tem uma musica com essa frase, índios: http://www.youtube.com/watch?v=ErCDzyr2qc8).

Se você já se cansou de ler este post, peço que você, pelo menos, comece a se questionar quanto ao propósito de sua existência, o porquê das coisas, o para quê. Não seja levado pela maré sem questionamentos sobre o rumo que você está indo.

É, por primeira vez fiz um post realmente sério, não quero deixá-lo triste, caro leitor, mas antes triste agora do que no fim de sua vida, ainda há tempo, não chegue ao fim dos seus dias questionando-se de que valeu sua vida.